segunda-feira, 28 de novembro de 2011

LIVRO TUDO QUE É GRANDE SE CONSTRÓI SOBRE MÁGOA

CAPÍTULO I - O CONVITE.

No início do ano foi convidado pelo pessoal da UGRA PRESS (responsável pela publicação do Anuário de Fanzines) para ilustrar o primeiro livro do escritor Leandro Márcio.

O livro é uma coletânea de contos, alguns inéditos e outros previamente publicados no blog Dissolve Coagula. Leandro foi vocalista e tocou junto com o Douglas (também da UGRA) nas bandas paulistas de hardcore Life is a Lie e Parental Advisory.
A idéia resumida era ilustrar o livro com um desenho por capítulo em um prazo que inicialmente pareceu me apareceu apertado. Aceitei.

A maior razão que pesou na minha aceitação ao convite foi o trabalho, paixão e cuidado que os dois têm por livros. Durante nossas conversas iniciais o projeto já estava bem avançando em termos de idéias, como seriam feitas as encadernações, tipo de papel, material da capa e diagramação (o Douglas é um obcecado por isto, acreditem). Como já havia visto o excelente trabalho da dupla no I Anuário de fanzines, sabia que eles fariam o que estavam falando.

CAPÍTULO II- A ILUSTRAÇÃO.

Conversamos um pouco sobre minhas idéias sobre o formato de ilustração para o tamanho de página e formatação do livro e chegamos a um acordo rápido.

O texto digitado do livro veio por e-mail, o processo de produção está resumido na seguinte declaração que dei há alguns meses para o site da UGRA:

“Separei o livro em pequenos pedaços grampeados e ia lendo no trânsito para o trabalho. Quando via alguma frase que sugeria um desenho grifava. Quando surgia uma imagem, desenhava rápido, no colo e no trânsito essas idéias iniciais. Depois que li o livro inteiro e tinha essas idéias, em casa (e com calma) passei para o lápis e finalizei com nanquim e pincel na mesa de luz. Que o Detran não me ouça.”






CAPÍTULO III - A PRODUÇÃO DO LIVRO.

Seguem as fotos, elas falam por tudo.



























CAPÍTULO IV - O LANÇAMENTO.
O livro será lançado provavelmente no dia 10 de dezembro. São apenas 100 cópias. Oportunamente colocarei mais dados sobre o evento. No momento o que posso dizer... Puta orgulho de participar deste projeto!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA - FANZINE LADO R- NATAL RN

No início do ano passado dei uma entrevista ao pessoal do fanzine Lado R, de Natal (RN). A edição # 9 saiu em setembro de 2010, se não me engano com tiragem 2000 cópias, gratuitas. Se você não conhece este, que é um dos melhores fanzines da atualidade, corra atrás!



PS: Para esta edição cedi um desenho para a capa também.

Entrevista feita por Leandro de Menezes.

Stewart Home define a arte como "inimiga do povo". O que pensa sobre essa provocação?
Penso que essa afirmação toma sentido se você pensar na arte como algo massificado ou enfiado goela abaixo do povo, mas acontece que o próprio conceito de arte é algo discutível.
A arte nos nossos tempos tem sido colocada em um pedestal inatingível, quase místico relegando ao povo uma posição passiva e de consumo. Penso que esse é um problema, pois a arte deveria ser feita também pelo povo, o feitio da arte em si é um processo poderoso que ajuda entender ao mundo, a si mesmo e a tornar a vida mais agradável.
São Paulo é uma cidade que oferece de modo democrático arte para todos - já que as ruas são tomadas pela arte urbana e há eventos gratuitos de todo tipo, mas ainda prevalece uma postura de “receber” ao invés de produzir a arte.
É por isso que a produção de arte popular (no fundo) tem um aspecto político de resistência, pois contra tudo e todos, apesar da falta de grana e de turnos pesados de trabalho, ainda há quem troque a novela por um cavaquinho para formar rodas de samba, só pelo prazer de fazer arte.
Eu acredito que a arte é amiga do povo. Ajuda a amansar os corações mais brutos, a entender sem falar, a pensar que existe algo mais que não se explica e até a esvaziar os bares. Não é a toa que o direito ao lazer está na constituição...

Você se considera um artista?
Sim, já que produzo arte.
Mas é complicado se rotular como artista... dá a impressão que se é um cara excêntrico, alheio à realidade e pelo contrário, neste monte de cascas que formam meu ego, acredito que em primeiro lugar venha o cidadão e o trabalhador. Depois vem o fato de que produzo arte como um modo de entender a vida, de responder a meus anseios pessoais e me relacionar com o mundo.
- Como você ganha a vida? (ganha dinheiro fazendo o quê?)
Sou formado em Letras e Pedagogia e atuo na educação há dez anos, hoje dirijo uma escola infantil no Jardim Ângela em São Paulo.
A arte não me dá dinheiro, mas exige rigor e dedicação semelhante ao meu trabalho oficial. São duas esferas que se complementam, pois como tenho um trabalho que me sustente, posso produzir o que eu gosto livremente e essa produção é um bálsamo para o cotidiano. Além disso, o trabalho que tenho é extremamente ligado a questões sociais, o que me faz fincar os dois pés no chão da realidade evitando que eu me perca em uma órbita artística delirante em torno de meu próprio umbigo.

De onde surgem os personagens que você desenha? Quem são eles?
Ultimamente o que desenho são metáforas de coisas que acredito. Durante muito tempo fazia desenhos mais espontâneos, às vezes ainda os faço quando estou no trânsito ou no telefone por exemplo. Mas atualmente, o que desenho e divulgo é fruto de uma mensagem, ou uma conclusão que tiro a respeito das lições da vida e que tento traduzir de modo implícito. Esse “modo implícito” é a lacuna onde se completa essa comunicação com quem vê o desenho, é onde se encaixa o histórico do observador e surge a leitura pessoal.

Como surgiu a idéia de fazer o vídeo "Tinta incrível"? A intenção é mostrar o seu processo de criação ou vai além disso?
Na verdade surgiu da coincidência da intenção de dois amigos em comum. Por um lado tinha o (músico) Parteum que queria fazer algo com minhas imagens, e de outro o Vébis Jr. (cineasta) que tinha a intenção de filmar o meu processo de trabalho. Então combinei com o Vébis de registrar a produção de um desenho e assim foi feito. A princípio pensei em pedir para o Parteum fazer uma trilha, mas como estava ouvindo direto a Mix Tape (Magnus Operandi) dele, comecei a prestar atenção nas músicas instrumentais e uma me chamou a atenção, o nome por coincidência (ou não) era “Tinta incrível”. Pedi a ele que cedesse a música e ele topou. Daí surgiu uma terceira figura, o montador Rafael Armbrust que fez a edição que considerei perfeita. Ao meu ver, toda essa afinidade produziu algo sincero e íntimo.

E como foi fazê-lo? Difícil, divertido?
Divertidíssimo. Uma curiosidade foi que no dia em que foram captadas as imagens do vídeo tinha gente visitando nosso antigo apartamento para uma possível compra e não é fecharam o negócio? Hehehe, acho que deu sorte! Imagina só, eles olhando o apartamento e rolando uma filmagem...Não devem ter entendido muita coisa!
- Além de fazer parte do Zinismo, recentemente você editou e publicou um fanzine chamado Manufatura... Qual a motivação de fazer isso e porque ainda escrever fanzine?
O Manufatura surgiu em um momento de algumas crises (no bom sentido).
A primeira foi que eu estava me questionando sobre a função da minha pintura, já que elas atingiam um número restrito de pessoas.
Isso fez com que desviasse meu foco para a ilustração e então comecei a fazê-las. Pois bem, a primeira ilustração derivou uma idéia para uma segunda e assim por diante, formando-se as sequências.
No meio do processo percebi que elas caberiam bem em um fanzine, já que seria um modo democrático, barato e eficiente para difundir o que estava fazendo. Sentia a necessidade de (além de divulgar meu trabalho) passar adiante as mensagens ou pensamentos que me levaram a gerar aquelas figuras.
Foi também um desafio tentar expressar tudo através só de imagens, já que gosto de escrever.

Qual a relação que a música tem com a "arte" que você faz?
Como desenhista devo muito à música já que se estou inserido neste meio (underground) e faço fanzines, foi porque tudo começou por uma preferência estética que teve início com o punk, depois com o skate e hardcore. Já tive banda, tocava guitarra e parei justamente pela opção de me dedicar mais ao desenho, mas volta e meia faço capas de CDs, cartazes etc . É engraçado pensar, mas é um ciclo de retro-alimentação, pois a música me inspira e às vezes retribuo essa inspiração com imagens para o próprio meio musical.
Além disso, gosto muito de música e ouço o tempo todo, ela me acompanha em tudo o que faço, não tem como negar que é uma relação muito forte.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

COTIDIANO






Leitura opcional a partir daqui

Como equilibrar suas expectativas cotidianas sem que a ansiedade lhe derrube?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

MONSTROS



Desenhos em nanquim no caderno de esboços.





Leitura opcional a partir daqui:

A técnica da água suja é feita com nanquim diluído em água, aplicado em diversas camadas. Imagino que tem esse nome porque alguém teve em um passado não tão remoto a brilhante idéia de pintar o papel com a água suja do pote onde limpava o pincel. O efeito desta técnica me agrada muito, pois apresenta um aspecto de foto antiga e através dela posso trabalhar sombra, textura e volume.

Fiz estes desenhos tentando valorizar o gesto dos personagens, fazendo-os o mais humanos possível em contraste às deformações propositais de suas anatomias.
O que me motivou foi a questão das aparências na sociedade humana, que faz com que consideremos o diferente indigno ou incapaz de nossa empatia.
Quando digo diferente, não me restrinjo somente ao considerado "feio" ou fora do padrão estético, mas sim aos pré-conceitos que multiplicamos em nossas vidas tal qual metástase. Alteridade!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ENTREVISTA SITE PUNKNET



Entrevista cedida ao site punknet em outubro de 2010!

Segue a reprodução:

Eduardo Zambetti

Talvez você já conheça Flávio Grão através das ilustrações feitas para alguns álbuns de bandas do circuito underground, talvez você tenha se deparado com seus desenhos em alguns shapes antigos, mas quem sabe você é daqueles aficcionados por Fanzines e já até trocou cartas com este artista multimidia...

Com seu recém lançado Zine " Concreto" circulando entre as mãos e mentes privilegiadas, Flávio Grão fala um pouco de seu trabalho na entrevista que segue:


Punknet - Você está lançando um novo Zine e sinceramente gostaria de saber em quantos projetos como este você anda trabalhando? Na sua trajetória como ”zineiro” quantos e quais já produziu?Qual foi o de maior repercussão e qual lhe agrada mais?
Grão - Há mais de dez anos fazia o fanzine The Answer em parceria com o amigo (Marcelo) Viegas, foi o primeiro fanzine sério que fiz, de música e cultura alternativa. Depois editei um fanzine de contos coletivo chamado Histórias para Ler no Banheiro (que durou 3 números) e por fim, o 333, que também era de contos e mais pessoal, que durou 6 números. Acabado o 333 # 6 tive um bloqueio de criatividade na escrita, ao mesmo tempo saí do trampo onde xerocava os zines e conheci a internet...hehe

No final de 2008 voltei à ativa com o ZINISMO, blog coletivo ou fanzine virtual feito com amigos.

No início deste ano lancei o MANUFATURA #1, fanzine de papel após 10 anos. Neste zine a idéia é trabalhar significados através de sequências de desenhos, sem palavras. No segundo semestre de 2010, quando estava com o MANUFATURA # 2 pronto para lançar, apareceu o convite (por parte dos artistas Kurru e Gaze) de participar da criação de um livreto pela editora Ôrganiza na mostra de arte urbana TRANSFER e assim surgiu o CONCRETO, que é um zine ou livreto de desenhos baseados em fotos e que trata um pouco da questão da convivência do ser humano influenciado pelo meio onde vive. Na sequência veio oportunidade de lançar o ZINISMO em papel, comemorando seus dois anos, projeto em que estou trabalhando atualmente. Além disso, estou cooptando desenhos para um zine de desenhos coletivo, chamado INTEGRAL e rascunhando um outro que é uma espécie de estudo aplicado de semiótica.

De todos estes zines, gostei muito de fazer o MANUFATURA # 1 porque nele acredito ter conseguido atingir os objetivos que havia me proposto, tanto em termos de conteúdo quanto de forma. Além disso, tive um retorno bacana por parte de pessoas e veículos de comunicação que admiro.

Nestes tempos cibernéticos e de comunicação virtual acelerada ainda há espaço para os impressos alternativos distribuídos de mão em mão ou através de carta... Isto seria apenas saudosismo ou uma ação de resistência no sentido crítico? Em sua opinião, qual a real função dos Fanzines?

Hoje em dia, com a internet se tornando popular, o fanzine adquiriu uma posição de gênero literário próprio, quem o faz, faz por uma opção consciente de um gênero independente, autoral e de pequena circulação. Mesmo porque, todos os zineiros que conheço, participam da internet de alguma forma, através de blogs, sites e outros. De qualquer forma, estes zineiros incuráveis encontram um prazer próprio em editar seu próprio veículo de comunicação na forma e com o conteúdo que bem entenderem. Considero o fanzine resistência considerando o aspecto financeiro, já que seus editores não ganham nada e não esperam lucro com sua produção e também uma resistência à banalização da imagem e da informação que vivemos atualmente.

Uma comparação do fanzinato (produtores, zines, público) atual com o dos anos 80 e 90 pode revelar o que? E uma comparação entre blogs e fanzines, é possível?

Não posso opinar muito sobre os fanzines dos anos 80 porque não os tive em mãos (risos)...hehe

Nos anos 90 os fanzines tinham um papel fundamental na divulgação da informação porque cobriam aquilo que as revistas (geralmente) não tinham capacidade ou interesse em cobrir e que geralmente era o mais sincero e autêntico em termos de produção artística.

Já nos anos 00, este papel de divulgação do dito “alternativo” de certa forma passou a ser feita pelos blogs ou sites de música altenativa. Sendo assim, atualmente os fanzines em tese deveriam percorrer caminhos mais inovadores, mais alternativos ainda em termos gráficos e de conteúdo. Creio que é por isso que os fanzines têm flertado cada vez mais com a arte.

Acredito que os blogs em comparação com os fanzines, possuam a vantagem de possibilitar recursos de multi-mídia e disponibilizar informação em tempo quase real. Já como desvantagem dos blogs, vejo o fato de que a maioria das informações da internet são consumidas e descartadas com a mesma velocidade que aparecem, e os fanzines entram justamente como uma opção a isso.

Já faz um tempo que circula o curta “Tinta Incrível” no qual um pouco de seu trabalho como ilustrador é revelado. Como surgiu a idéia deste vídeo? Como foi a concepção e produção?

O vídeo partiu de uma proposta do cineasta Vebis Jr que gostaria de produzir um vídeo com meus trabalhos. Fizemos o making-off da produção de um desenho e então entrei em contato com um outro amigo, que também já havia conversado comigo sobre fazer um trabalho junto, o músico Parteum que gentilmente cedeu a trilha. O mais legal é que a edição foi feita pelo Rafael Armbrust sem contato comigo ou mesmo com o Vébis, e não é que ele conseguiu juntar tudo de uma forma muito legal?

Além de suas manifestações artísticas desembocarem nos seus fanzines, qual a conexão existente entre o Grão ilustrador, escritor, músico, roteirista, etc?

A conexão é que há a mesma pessoa obcecada por trás destas produções que não consegue parar de criar. E esta pessoa utiliza diferentes linguagens para obter diferentes resultados de comunicação.

Quais outros artistas lhe servem como influência em todos os campos artísticos que você atua?

É difícil falar de influências porque considero que não sou influenciado só pela arte. Às vezes um gesto, uma cena real, uma atitude (como a do movimento punk ou do hardcore) pode influenciar mais que muitas referências puramente estéticas. Acho importante para o artista buscar referências para sua produção linguagens diferentes da que atua, por exemplo, um desenhista ser inspirado por uma música, ou um músico por um cineasta. Mas de qualquer forma, nas artes gráficas gosto do Gustave Doré, Escher, Lucien Freud, Francis Bacon, Robert Crumb, gosto também da Arte Russa (da época dos cartazes), do Concretismo e de quase todo tipo de histórias em quadrinhos.

Link direto para a entrevista aqui.