sábado, 19 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA - FANZINE LADO R- NATAL RN

No início do ano passado dei uma entrevista ao pessoal do fanzine Lado R, de Natal (RN). A edição # 9 saiu em setembro de 2010, se não me engano com tiragem 2000 cópias, gratuitas. Se você não conhece este, que é um dos melhores fanzines da atualidade, corra atrás!



PS: Para esta edição cedi um desenho para a capa também.

Entrevista feita por Leandro de Menezes.

Stewart Home define a arte como "inimiga do povo". O que pensa sobre essa provocação?
Penso que essa afirmação toma sentido se você pensar na arte como algo massificado ou enfiado goela abaixo do povo, mas acontece que o próprio conceito de arte é algo discutível.
A arte nos nossos tempos tem sido colocada em um pedestal inatingível, quase místico relegando ao povo uma posição passiva e de consumo. Penso que esse é um problema, pois a arte deveria ser feita também pelo povo, o feitio da arte em si é um processo poderoso que ajuda entender ao mundo, a si mesmo e a tornar a vida mais agradável.
São Paulo é uma cidade que oferece de modo democrático arte para todos - já que as ruas são tomadas pela arte urbana e há eventos gratuitos de todo tipo, mas ainda prevalece uma postura de “receber” ao invés de produzir a arte.
É por isso que a produção de arte popular (no fundo) tem um aspecto político de resistência, pois contra tudo e todos, apesar da falta de grana e de turnos pesados de trabalho, ainda há quem troque a novela por um cavaquinho para formar rodas de samba, só pelo prazer de fazer arte.
Eu acredito que a arte é amiga do povo. Ajuda a amansar os corações mais brutos, a entender sem falar, a pensar que existe algo mais que não se explica e até a esvaziar os bares. Não é a toa que o direito ao lazer está na constituição...

Você se considera um artista?
Sim, já que produzo arte.
Mas é complicado se rotular como artista... dá a impressão que se é um cara excêntrico, alheio à realidade e pelo contrário, neste monte de cascas que formam meu ego, acredito que em primeiro lugar venha o cidadão e o trabalhador. Depois vem o fato de que produzo arte como um modo de entender a vida, de responder a meus anseios pessoais e me relacionar com o mundo.
- Como você ganha a vida? (ganha dinheiro fazendo o quê?)
Sou formado em Letras e Pedagogia e atuo na educação há dez anos, hoje dirijo uma escola infantil no Jardim Ângela em São Paulo.
A arte não me dá dinheiro, mas exige rigor e dedicação semelhante ao meu trabalho oficial. São duas esferas que se complementam, pois como tenho um trabalho que me sustente, posso produzir o que eu gosto livremente e essa produção é um bálsamo para o cotidiano. Além disso, o trabalho que tenho é extremamente ligado a questões sociais, o que me faz fincar os dois pés no chão da realidade evitando que eu me perca em uma órbita artística delirante em torno de meu próprio umbigo.

De onde surgem os personagens que você desenha? Quem são eles?
Ultimamente o que desenho são metáforas de coisas que acredito. Durante muito tempo fazia desenhos mais espontâneos, às vezes ainda os faço quando estou no trânsito ou no telefone por exemplo. Mas atualmente, o que desenho e divulgo é fruto de uma mensagem, ou uma conclusão que tiro a respeito das lições da vida e que tento traduzir de modo implícito. Esse “modo implícito” é a lacuna onde se completa essa comunicação com quem vê o desenho, é onde se encaixa o histórico do observador e surge a leitura pessoal.

Como surgiu a idéia de fazer o vídeo "Tinta incrível"? A intenção é mostrar o seu processo de criação ou vai além disso?
Na verdade surgiu da coincidência da intenção de dois amigos em comum. Por um lado tinha o (músico) Parteum que queria fazer algo com minhas imagens, e de outro o Vébis Jr. (cineasta) que tinha a intenção de filmar o meu processo de trabalho. Então combinei com o Vébis de registrar a produção de um desenho e assim foi feito. A princípio pensei em pedir para o Parteum fazer uma trilha, mas como estava ouvindo direto a Mix Tape (Magnus Operandi) dele, comecei a prestar atenção nas músicas instrumentais e uma me chamou a atenção, o nome por coincidência (ou não) era “Tinta incrível”. Pedi a ele que cedesse a música e ele topou. Daí surgiu uma terceira figura, o montador Rafael Armbrust que fez a edição que considerei perfeita. Ao meu ver, toda essa afinidade produziu algo sincero e íntimo.

E como foi fazê-lo? Difícil, divertido?
Divertidíssimo. Uma curiosidade foi que no dia em que foram captadas as imagens do vídeo tinha gente visitando nosso antigo apartamento para uma possível compra e não é fecharam o negócio? Hehehe, acho que deu sorte! Imagina só, eles olhando o apartamento e rolando uma filmagem...Não devem ter entendido muita coisa!
- Além de fazer parte do Zinismo, recentemente você editou e publicou um fanzine chamado Manufatura... Qual a motivação de fazer isso e porque ainda escrever fanzine?
O Manufatura surgiu em um momento de algumas crises (no bom sentido).
A primeira foi que eu estava me questionando sobre a função da minha pintura, já que elas atingiam um número restrito de pessoas.
Isso fez com que desviasse meu foco para a ilustração e então comecei a fazê-las. Pois bem, a primeira ilustração derivou uma idéia para uma segunda e assim por diante, formando-se as sequências.
No meio do processo percebi que elas caberiam bem em um fanzine, já que seria um modo democrático, barato e eficiente para difundir o que estava fazendo. Sentia a necessidade de (além de divulgar meu trabalho) passar adiante as mensagens ou pensamentos que me levaram a gerar aquelas figuras.
Foi também um desafio tentar expressar tudo através só de imagens, já que gosto de escrever.

Qual a relação que a música tem com a "arte" que você faz?
Como desenhista devo muito à música já que se estou inserido neste meio (underground) e faço fanzines, foi porque tudo começou por uma preferência estética que teve início com o punk, depois com o skate e hardcore. Já tive banda, tocava guitarra e parei justamente pela opção de me dedicar mais ao desenho, mas volta e meia faço capas de CDs, cartazes etc . É engraçado pensar, mas é um ciclo de retro-alimentação, pois a música me inspira e às vezes retribuo essa inspiração com imagens para o próprio meio musical.
Além disso, gosto muito de música e ouço o tempo todo, ela me acompanha em tudo o que faço, não tem como negar que é uma relação muito forte.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

COTIDIANO






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