sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ENTREVISTA SITE PUNKNET



Entrevista cedida ao site punknet em outubro de 2010!

Segue a reprodução:

Eduardo Zambetti

Talvez você já conheça Flávio Grão através das ilustrações feitas para alguns álbuns de bandas do circuito underground, talvez você tenha se deparado com seus desenhos em alguns shapes antigos, mas quem sabe você é daqueles aficcionados por Fanzines e já até trocou cartas com este artista multimidia...

Com seu recém lançado Zine " Concreto" circulando entre as mãos e mentes privilegiadas, Flávio Grão fala um pouco de seu trabalho na entrevista que segue:


Punknet - Você está lançando um novo Zine e sinceramente gostaria de saber em quantos projetos como este você anda trabalhando? Na sua trajetória como ”zineiro” quantos e quais já produziu?Qual foi o de maior repercussão e qual lhe agrada mais?
Grão - Há mais de dez anos fazia o fanzine The Answer em parceria com o amigo (Marcelo) Viegas, foi o primeiro fanzine sério que fiz, de música e cultura alternativa. Depois editei um fanzine de contos coletivo chamado Histórias para Ler no Banheiro (que durou 3 números) e por fim, o 333, que também era de contos e mais pessoal, que durou 6 números. Acabado o 333 # 6 tive um bloqueio de criatividade na escrita, ao mesmo tempo saí do trampo onde xerocava os zines e conheci a internet...hehe

No final de 2008 voltei à ativa com o ZINISMO, blog coletivo ou fanzine virtual feito com amigos.

No início deste ano lancei o MANUFATURA #1, fanzine de papel após 10 anos. Neste zine a idéia é trabalhar significados através de sequências de desenhos, sem palavras. No segundo semestre de 2010, quando estava com o MANUFATURA # 2 pronto para lançar, apareceu o convite (por parte dos artistas Kurru e Gaze) de participar da criação de um livreto pela editora Ôrganiza na mostra de arte urbana TRANSFER e assim surgiu o CONCRETO, que é um zine ou livreto de desenhos baseados em fotos e que trata um pouco da questão da convivência do ser humano influenciado pelo meio onde vive. Na sequência veio oportunidade de lançar o ZINISMO em papel, comemorando seus dois anos, projeto em que estou trabalhando atualmente. Além disso, estou cooptando desenhos para um zine de desenhos coletivo, chamado INTEGRAL e rascunhando um outro que é uma espécie de estudo aplicado de semiótica.

De todos estes zines, gostei muito de fazer o MANUFATURA # 1 porque nele acredito ter conseguido atingir os objetivos que havia me proposto, tanto em termos de conteúdo quanto de forma. Além disso, tive um retorno bacana por parte de pessoas e veículos de comunicação que admiro.

Nestes tempos cibernéticos e de comunicação virtual acelerada ainda há espaço para os impressos alternativos distribuídos de mão em mão ou através de carta... Isto seria apenas saudosismo ou uma ação de resistência no sentido crítico? Em sua opinião, qual a real função dos Fanzines?

Hoje em dia, com a internet se tornando popular, o fanzine adquiriu uma posição de gênero literário próprio, quem o faz, faz por uma opção consciente de um gênero independente, autoral e de pequena circulação. Mesmo porque, todos os zineiros que conheço, participam da internet de alguma forma, através de blogs, sites e outros. De qualquer forma, estes zineiros incuráveis encontram um prazer próprio em editar seu próprio veículo de comunicação na forma e com o conteúdo que bem entenderem. Considero o fanzine resistência considerando o aspecto financeiro, já que seus editores não ganham nada e não esperam lucro com sua produção e também uma resistência à banalização da imagem e da informação que vivemos atualmente.

Uma comparação do fanzinato (produtores, zines, público) atual com o dos anos 80 e 90 pode revelar o que? E uma comparação entre blogs e fanzines, é possível?

Não posso opinar muito sobre os fanzines dos anos 80 porque não os tive em mãos (risos)...hehe

Nos anos 90 os fanzines tinham um papel fundamental na divulgação da informação porque cobriam aquilo que as revistas (geralmente) não tinham capacidade ou interesse em cobrir e que geralmente era o mais sincero e autêntico em termos de produção artística.

Já nos anos 00, este papel de divulgação do dito “alternativo” de certa forma passou a ser feita pelos blogs ou sites de música altenativa. Sendo assim, atualmente os fanzines em tese deveriam percorrer caminhos mais inovadores, mais alternativos ainda em termos gráficos e de conteúdo. Creio que é por isso que os fanzines têm flertado cada vez mais com a arte.

Acredito que os blogs em comparação com os fanzines, possuam a vantagem de possibilitar recursos de multi-mídia e disponibilizar informação em tempo quase real. Já como desvantagem dos blogs, vejo o fato de que a maioria das informações da internet são consumidas e descartadas com a mesma velocidade que aparecem, e os fanzines entram justamente como uma opção a isso.

Já faz um tempo que circula o curta “Tinta Incrível” no qual um pouco de seu trabalho como ilustrador é revelado. Como surgiu a idéia deste vídeo? Como foi a concepção e produção?

O vídeo partiu de uma proposta do cineasta Vebis Jr que gostaria de produzir um vídeo com meus trabalhos. Fizemos o making-off da produção de um desenho e então entrei em contato com um outro amigo, que também já havia conversado comigo sobre fazer um trabalho junto, o músico Parteum que gentilmente cedeu a trilha. O mais legal é que a edição foi feita pelo Rafael Armbrust sem contato comigo ou mesmo com o Vébis, e não é que ele conseguiu juntar tudo de uma forma muito legal?

Além de suas manifestações artísticas desembocarem nos seus fanzines, qual a conexão existente entre o Grão ilustrador, escritor, músico, roteirista, etc?

A conexão é que há a mesma pessoa obcecada por trás destas produções que não consegue parar de criar. E esta pessoa utiliza diferentes linguagens para obter diferentes resultados de comunicação.

Quais outros artistas lhe servem como influência em todos os campos artísticos que você atua?

É difícil falar de influências porque considero que não sou influenciado só pela arte. Às vezes um gesto, uma cena real, uma atitude (como a do movimento punk ou do hardcore) pode influenciar mais que muitas referências puramente estéticas. Acho importante para o artista buscar referências para sua produção linguagens diferentes da que atua, por exemplo, um desenhista ser inspirado por uma música, ou um músico por um cineasta. Mas de qualquer forma, nas artes gráficas gosto do Gustave Doré, Escher, Lucien Freud, Francis Bacon, Robert Crumb, gosto também da Arte Russa (da época dos cartazes), do Concretismo e de quase todo tipo de histórias em quadrinhos.

Link direto para a entrevista aqui.

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