Em abril deste ano (2013) passei 7 dias em Natal ( RN ) e
tive neste uma rica estadia em termos de vivência, trocas culturais e na
sedimentação da amizades (algumas já iniciadas a partir de trocas de cartas,
emails e etc).
Logo que retornei desta viagem para São Paulo comecei a
pensar em qual seria o próximo destino tendo em vista que teria umas semanas de
folga no segundo semestre. Não foi muito difícil decidir que iria para Maceió,
no estado de Alagoas, local onde passei cerca de oito dias no início de
setembro.
A escolha por Maceió se deu por vários motivos. O primeiro foi
o de que um dos meus grandes amigos (o artista e zineiro)
Daniel Hogrefe morou
por lá, e volta e meia nossos assuntos se bandeavam para aqueles lados. A
partir desta amizade acabei por conhecer e me tornar fã de um dos melhores blogs
de cultura do Brasil, o
Sirva-se, representado em Maceió por uma série de
amigos e capitaneado pela figura de Luís “Buzugo”, inquieto agitador cultural
da cidade. É obvio que pesou também em minha escolha o fato do litoral de
Alagoas ser um dos mais belos do mundo, onde poderia além de nadar, pintar e
desenhar algumas paisagens no meu caderno.
Alguns meses antes de minha viagem, tentamos articular uma
oficina e uma palestra sobre zines em um equipamento cultural da cidade que
acabou não se viabilizando por questões diversas. Por sorte, neste período haveria um evento em
comemoração dos seis anos do espaço “Quintal Cultural”. O espaço situado na
periferia de Alagoas é palco de resistência e ativismo cultural recebendo muito
das manifestações autênticas da cultura local e também de outros estados.
Foi neste contexto, ao lado de apresentações diversas como a
do grupo de reggae Macaco Sound System e do rap da Família Todos Um, que fiz
uma roda de conversa com o tema “Panorama dos zines e publicações independentes”.
Graças a este evento pude conhecer o outro lado da cidade que geralmente é
escondido dos visitantes, além de travar contato com parte das pessoas que
fazem a cultura ou cena independente acontecer, através do punk, do hardcore, do
rap, do reggae e também é claro dos produtores de zines locais.
Neste evento conheci pessoalmente
Pedro Lucena, um brilhante
artista local. Nas conversas com Pedro tive um contato mais apurado com seu
trabalho que entre outras influências dialoga com o artesanato produzido na
Ilha do Ferro em Alagoas (localidade que certamente quero conhecer em um futuro
breve). Um assunto que conversamos e que me trouxe certa inquietação pessoal foi
sobre as manifestações culturais típicas do nordeste, tão ricas e autênticas. A
inquietação pessoal se deu ao questionar-me qual seria a cultura típica e
regional da região e época em vivo, a São Paulo contemporânea. O assunto dá
pano pra manga, poderia ser tema uma para postagem exclusiva, ou até mesmo uma
tese.
Uma outra face desta viagem foi a de alguns passeios por
lugares mais turísticos. Um dos passeios que fiz foi até a cidade de Piranhas,
na divisa com Sergipe. Nesta localidade foi morto Lampião e outros cangaceiros
dando origem à emblemática foto das suas cabeças cortadas. Pude observar que é paradoxal
e delicado o entendimento da questão do cangaço na região. Por vezes Lampião é
visto como vilão, por vezes como herói, não me cabe fazer juízos, mas se for observado
mais atentamente o panorama político do estado e as diferenças sociais
marcantes, começam a aparecer algumas pistas que podem auxiliar no entendimento
desta questão.
Desenho baseado na foto mítica
das cabeças cortadas do bando de Lampião.
Tive o privilégio de visitar alguns lugares paradisíacos:
praias, o Rio São Francisco, formações rochosas, cânions e fatiados. Fiz alguns
desenhos e muitas anotações e reflexões em meus cadernos. As formações rochosas
em especial puderam encaminhar alguns pensamentos que já tinha e que trata
sobre a relação entre as formações e elementos naturais geográficos e a criação
das mitologias. Uma parte destas discussões será publicada no meu novo zine (Mitologia
do Descompasso). A foto e a aquarela abaixo tentam representar um pouco sobre
isso, a foto de um paredão no Rio São Francisco e uma interpretação das figuras
que consigo imaginar nestas formações.
Esta minha segunda viagem ao nordeste do Brasil me fez
pensar especialmente no quanto podemos crescer ao nos deslocarmos de onde
vivemos para outros lugares e conhecer outras realidades avaliando as
semelhanças e diferenças dentro de um mesmo território (a que resolveram
denominar Brasil).
Outra percepção que
tive foi a respeito da cultura punk/hc hardcore, e suas expressões musicais ou
impressas (zines) que conseguem romper paradigmas, possibilitando-me e dando-me
motivos para conhecer novas pessoas, outros lugares e o mais importante:
estabelecer vínculos de amizade e fraternidade, superando barreiras de qualquer
espécie.
Agradeço a todos que encontrei na minha estadia, em especial
ao Luís Buzugo, Hew Barreto, João Marcelo Cruz e Bárbara Pacheco pelo suporte
incrível e generoso que me deram.
Carranca.